Concordância

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Até onde desejar mais é realmente desejar mais? Buscamos mais e estamos cada vez menos contentes com o que obtemos. Nossas casas estão cheias, nossas agendas estão cheias, desviamos e tropeçamos em coisas que parecem proliferar-se em nossas casas. É difícil manter tudo organizado, e quando tiramos tudo da vista, não achamos mais nada.

E se mais não fosse mais, mas menos? Ao invés de enchermos nossas vidas com coisas e compromissos, enchermos nossas vidas com tempo para podermos aproveitar o que realmente nos faz bem e estar com aqueles que mais amamos. Li que uma análise da agenda de alguém pode dizer o que essa pessoa realmente está valorizando, o que muitas vezes não inclui o que ela diz que valoriza. Quem marca na agenda tempo que irá passar com a família? Usamos o tempo que sobra, se e quando sobra. Mas não valorizamos a família mais do que qualquer outra coisa?

Podemos falar muito, mas são nossas ações que realmente importam. Dizemos que amamos, mas não conseguimos ter tempo para estar juntos e realmente amarmos. Dizemos que queremos, mas quando a oportunidade surge buscamos outra coisas e novidades. E no final do dia achamos que fizemos muito. Quanto realmente fizemos para alimentar aquilo que nos sustenta?

Interior

“A maioria dos homens, mesmo neste país relativamente livre, por mera ignorância e erro, vivem tão ocupados com as falsas preocupações e as lides desnecessariamente pesadas da vida que não conseguem colher seus frutos mais delicados.”

H. D. Thoreau – Walden
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Muito da vida é feito sem pensar, sem questionar, somente pela tarefa ter sido colocada em nosso caminho. E quanto é deixado de lado por um motivo aparentemente urgente, mas que em verdade desvia o caminho para que este passe por onde outrem quer que seja, e não nós mesmos.

Encontrar o próprio caminho, aquele que é verdadeiro para nós, é uma das tarefas mais difíceis que se tem na vida. Seguir este caminho é ainda mais difícil.

Mesmo sendo um texto de 1854 pode ser lido como uma crítica atual para todos nós. Seria quase uma previsão da moderna situação social, se esta fosse a sua intenção. Mas não o é, e sim um ode à vida simples, com valores firmes e dedicados ao cuidado do próprio ser em integração com o meio.

Quanto é necessário para ser feliz? Um segundo, este em qual se está. Só neste segundo é que tomamos alguma decisão e fazemos algo. Não no segundo passado nem no próximo, somente neste. É neste segundo que decidimos o rumo dos próximos, que darão continuidade à escolha ou mudarão o caminho no qual nos encontrávamos. E todo o necessário para que esta escolha esteja alinhada com nosso caminho está dentro de cada um. Conheça-te a ti mesmo, mergulhe dentro deste ser, entenda cada canto deste mundo. Este é o caminho para o caminho verdadeiro.

“Dirige teu olhar para dentro de ti,

E mil regiões encontrarás ali,

Ainda mais ignotas. Percorre tal via

E mestre serás de tua cosmografia.”

H. D. Thoreau – Walden

Confrontar

Quando sentimos incômodos em nossas vidas a resposta automática é a de responder à eles. Lutamos contra o que está nos incomodando e, quando damos a batalha por vencida, paramos de olhá-los. Até mesmo esquecemos que esteve ali alguma vez, o que o torna somente mais forte para voltar a nos morder algum dia. Como qualquer mal que nos aflige, olhar para o sintoma e atacar somente o sintoma, e parar por aí, nos faz esquecer que tudo possui uma causa, um ponto de origem, uma necessidade primordial, que caso não seja sanada, voltará a nos perturbar, seja com o mesmo sintoma, seja com algum novo incômodo, mas é certo que voltará.

Deixar um relacionamento que não nos agrada somente para encontrar outro que nos causa as mesmas aflições. Trocar de empresa quando é a nossa carreira que nos consome. Mudar de casa e levar tudo o que estava dentro dela consigo quando as roupas já não nos servem mais e os demais bens não nos agradam. Tudo isso é tratar o sintoma e esquecer-se da causa. O novo relacionamento irá empolgar, até percebermos que caímos na mesma solidão em que estávamos no antigo. O emprego novo trará muitas coisas novas, até termos que nos ajustar às mesmas atividades que realizamos no anterior. A casa voltará a nos trazer insatisfação quando percebemos que somente as paredes mudaram, mas carregamos a nossa vida antiga para dentro da casa nova. E tudo se repete, pois nossa memória é curta o suficiente para esquecer-se do movimento antes do último, e repetimos o mesmo padrão.

Depois de fazermos isso várias vezes corremos o risco de algo nos servir com um retórico ou literal tapa na cara. Um parceiro que percebeu o seu descontentamento idêntico ao relacionamento anterior após seus relatos de insatisfação dos relacionamentos passados, um chefe que começa a perceber seu desânimo e lhe avaliar mal ou pegar no seu pé para que tenha um desempenho melhor, a mesma desordem do dia a dia que você não quer arrumar na sua casa. Tudo isso aparece novamente para nos trazer de volta ao problema, e então agimos para novamente mudar os sintomas, sem olhar para o caminho que nos levou à eles. Um problema não pode ser resolvido no mesmo nível de consciência em que foi criado, é necessário crescer com o problema, para só então conseguir enxergar sua solução.

No entanto, por vezes, podemos nos deparar com algo novo, e que nos faz questionar um pouco além do nosso descontentamento aparente. É como se muitas possibilidades de repente se abrissem aos nossos olhos e que não enxergávamos antes pela nossa própria obtusidade. Crescemos, amadurecemos, evoluímos. Use o termo que for, mas o certo é que alteramos nosso nível de consciência para sair da situação em que nos encontrávamos. E isso não tem volta.

A cada passo que damos em direção à novos níveis evolutivos individuais não existe retorno. Uma vez alcançado um novo patamar não se desce mais ao anterior. No caminho do desenvolvimento individual não existe para trás, somente para frente. E cada passo nos levará a mais consciência, mais auto conhecimento, mais responsabilidade para com nós mesmos.

Dizem que a ignorância é uma dádiva. Quase isso. Crescer dói, mas é somente crescendo que chegamos a algum lugar. Crescer é movimento, e sem movimento é quase óbvio que não vamos a lugar algum.

Comprometimento

Comprometimento com nosso próprio destino é algo que não é opcional. Ou nos comprometemos a viver intensamente o que temos no nosso caminho ou não vivemos plenamente, e assim algum caminho domina nossa existência. Sem qualquer possibilidade de escolhermos o próximo passo, somos impelidos contra muros, tropeçamos em obstáculos visíveis e invisíveis, batemos a cabeça, topamos o dedinho, todas as consequências de andar sem atenção ou rumo, como se estivéssemos realmente sendo arrastados. E de fato estamos. 

Para que exista a possibilidade de escolher o caminho e não topar com todas as grandes e pequenas objeções que existem nele, precisamos nos comprometer com o que estamos vivendo. Sem comprometimento com o momento presente não temos a menor chance de conseguir desviar dos obstáculos. É imperativo que façamos este esforço, que assim será no princípio, para que depois se torne natural, o ato de estar presente e de viver.

Pausa

Acordar, levantar, ir ao banheiro, lavar o rosto, checar o celular, trocar de roupa, comer, sair de casa, trabalhar, comer, conversar, comer, voltar para casa, comer, assistir televisão, ficar no celular, tomar banho, deitar, ficar no celular, dormir. Repete no dia seguinte, com variações conforme o dia e a rotina de cada um, mas em geral repete.

Depois de um bom tempo disso se repetindo, para alguns mais outros menos, um dia paramos e sentimos que não fizemos nada para nós, nada de especial, nada de diferente. Sequer nos lembramos do que fizemos, pois tudo estava em piloto automático, repetindo diariamente, sem qualquer tipo de interrupção, para que a produtividade fosse maximizada e não perdêssemos nenhum segundo do dia. O turbilhão nos consumiu e de repente descobrimos que nem mesmo percebemos. Nossa existência tornou-se magra, esticada, tênue. Tudo o que sai daquela rotina repetida tantas vezes parece complicado demais e difícil demais, até mesmo impossível. Mas como eu vou assistir ao nascer do sol, se durmo tarde e preciso descansar para trabalhar? E o pôr do sol? Preciso estar na academia neste horário para não atrasar para chegar em casa e ter meu bônus diário de tempo no celular para compensar o cansaço do dia.

Parece que cada ação nossa se resume a compensações para outras que por sua vez são obrigações para assim manterem uma escolha, que nem sempre é a nossa, mas que não questionamos.

Mas e se a cada ação que formos realizar questionarmos? Não longos questionamentos, mas um simples “Por que?”. Sem parar para filosofar sobre tudo, mas simplesmente entendendo o por que fazemos tudo. Pergunte e continue. Trazer consciência para cada etapa do dia. E ainda mais ousados, além de questionar, tomar 10 segundos entre cada atividade para respirar e olhar para si mesmo e se perguntar o que você realmente precisa agora? Pode ser que você esteja com sede e não saiba. Se 10 segundos parecem muito tempo, use 5 segundos. A cada troca de atividade, de foco, pare e respire uma vez, sentindo sua respiração. Nada zen, sem precisar previamente de um estado de paz interior absoluta. A respiração e a pausa farão isso.

Experimente mudar a rotina sem mudar a rotina, somente quebrando ela. A vida é feita de ciclos de movimento, então nada mais natural que o nosso dia também seja composto de ciclos, com início, meio e fim. E cada fim marcado por um pequeno momento de pausa. Um grão de areia de tranquilidade, consciência e presença. Ao final do dia teremos um punhado, após um mês já será uma quantidade considerável.

Som

O som da chuva. O som do oceano. O som do vento. Os pássaros, um cão que ladra distante. Por vezes uma coruja ou um gato que lamentam. Todos esses sons me fazem sentir que existe vida ao redor.

São sons dentro de uma cidade ainda. Existe o barulho dos carros, de ônibus, aviões, eventualmente um caminhão, uma moto, uma bicicleta com falta de lubrificação. Mas estes são barulhos. Nenhum deles canta, nenhum deles é vivo. Estes não trazem conforto para os ouvidos. Me fazem parar de falar por não poder ouvir nada além deles, diferentemente dos outros, que me fazem parar o que quer que esteja fazendo para ouvi-los.

Por vezes deixamos de ouvir estes sons e passamos a ouvir somente nossos próprios pensamentos ou sons que emitimos. Deixamos todo o resto de lado e nos centramos em nós mesmos, até que algum deles nos traz de volta para o estado de alerta e atenção para com o todo que nos cerca, e que é muito maior do que nós.

Oceanos

Sentir a água lavando os pés em um movimento intenso de expansão e contração. Por vezes chegando a molhar as roupas com a força com que bate nas pernas, por vezes somente limpando o trecho de pele que está mergulhado. O sol bate direto ou através das nuvens, ou mesmo ainda descansa em seu repouso diário em outra parte do mundo, permitindo que a lua seja a grande luz que ilumina as espumas que o movimento cria ao acontecer.

Conheci alguns mares, o atlântico, aquele que está mais próximo de onde nasci. Mas também o visitei bastante longe de casa, à um hemisfério todo de distância. O pacífico, invariavelmente mais gelado, mas por vezes até mesmo menos irado do que seu grande irmão, também em partes opostas por hemisférios. O último, não em ordem mas somente em menção, o mar de Tasman, que por ser parte do pacífico conserva muitas de suas características visuais, mas tem uma força que é somente sua. Em todos eles lavei meus pés e, quando possível, o resto do corpo todo. E com isso banhei minha alma.

Quando mais novo tinha menos consciência desse ato, mas depois de conhecer-me um pouco mais comecei a entender o quanto era influenciado por esses corpos magnânimos e vivos que banham as costas de nossas terras. Muitas vezes sentei-me a admira-los sem ter vontade de molhar meu corpo por prazer, mas sempre molhei os pés como uma reverência, como se fosse eu quem estivesse lavando os pés do oceano, e não o contrário. O respeito e reverência por este elemento vivo que circunda todos os corpos terrestres e, de certo modo, transforma todos os terrenos em ilhas, trouxe-me clareza em muitos momentos diferentes da vida e respondeu-me diversas questões com o seu marulhar constante, que aos ouvidos de quem estiver atento possuem vozes muito profundas e cheias de conhecimento.

Com o mar curei dores e fechei ferimentos. Acalmei a mente em crises de ansiedade profunda meditando ao olhar suas ondas e ouvir seu rugido, sem nem mesmo saber ainda o que era meditar. Encontrei respostas para questões que me perturbaram durante muito tempo, somente com a sua presença. Essa é a força que essas águas tem em mim, e acredito que em qualquer outro que possa estar realmente presente quando próximo delas. Triste é pensar que muitos não tem a oportunidade ou o desejo de estar junto à essa imensidão.

Hoje tenho essa oportunidade com uma frequência praticamente infinita, e continuo aprendendo a cada novo encontro. A natureza de sua existência e amplitude me coloca de volta em meu lugar de pequenez frente à existência e me traz a consciência de minha fragilidade e efemeridade neste mundo. Esse é um dos motivos que me faz sempre retornar e me defrontar com o infinito que representa o oceano a cada novo questionamento que tortura minha mente, ou quando esta encontra-se muito quieta, para assim levar a novos questionamentos que irão manter-me em movimento.

Aos meus filhos

Filhos,

busco todos os dias agradecer pela chance que me deram de ser pai. A cada dia que nasce sei que tenho a oportunidade de ser mais uma vez um exemplo para vocês, e busco fazer valer cada um dos dias. Minha razão me cobra dizendo que não sou o melhor pai, mas meu coração me diz que isso é somente uma oportunidade para sempre ser melhor do que fui ontem. E espero estar me superando diariamente.

Antes de vocês eu ouvia de meu pai “quando você for pai você saberá”. Hoje continuo não sabendo muito do que ele me dizia, mas tenho uma correção para esta frase: quando você for pai você sentirá. Tudo o que posso dizer é que vocês me fazem sentir. O saber vem de outras partes da vida, mas o sentir vem de vocês. Não que eu não amasse antes ou ficasse feliz ou até mesmo triste, mas com vocês esses sentimentos surgem de um lugar muito mais profundo, muito mais de dentro do ser, muito mais puro. Digo que todos esses sentimentos agora parecem vir da alma, e não da mente. Até mesmo a tristeza que por vezes me assola por julgar não ter tido a melhor postura que poderia ter.

Em algum momento senti que deveria pedir perdão, mas acredito que não devemos pedir perdão por quem somos. E o que eu entrego a vocês é tudo o que sou. Busco fazê-lo em plenitude, desafiando minhas próprias dificuldades. Não só por vocês, mas também por mim. Pois, durante esse tempo em que já convivi com vocês, aprendi que somente buscando ser melhor é que se é melhor. Somente com a ação consciente de buscar ser o melhor pai que posso ser é que posso entregar mais do que eu podia antes e assim ser também uma pessoa melhor. E isso me faz feliz, por vê-los felizes e por vê-los também podendo ser quem são.

Espero poder sempre honrar esta posição de pai, de exemplo, de líder, de herói. Nada é mais gratificante do que poder guiar suas vidas para que possam exercer a plenitude de suas almas.

Uma vez escrevi o seguinte para meu pai:

Ser pai é ser mais do que uma pessoa só. É ser inocente e se emocionar com os filhos, é ser guerreiro e enfrentar todas as dificuldades que os filhos trazem, é se mágico e mostrar para os filhos como o mundo é fantástico e cheio de possibilidades, é ser rei e ser exemplo para os filhos seguirem durante a vida toda.

Assim trabalho todos os dias para que vocês possam me enxergar e se orgulhar de que me tem como pai, e tal como eu, serem gratos pela oportunidade que temos de construir tudo isso juntos.

Vivos

Abrir os olhos todas as manhãs e dar graças por estar acordado novamente. Mais um dia inteiro para sermos a melhor versão de nós mesmos. Aprimorar nosso ser, trazer o bem aos nossos. Este deveria ser o primeiro pensamento do dia, desconsiderando dores de uma noite mal dormida, o horário que perdemos ao não vermos tocar o despertador, as dificuldades que invariavelmente teremos que enfrentar no decorrer de mais um dia. Dificuldades estas que somente nos são colocadas pois estamos vivos e podemos enfrentar-las.

Só é possível viver as partes difíceis da vida por conta do bem supremo que recebemos diariamente: estamos vivos. O que fazemos com essa dádiva diária é escolha nossa. Podemos não ter a possibilidade de escolher muitos de nossos compromissos, mas podemos escolher viver cada um de nossos dias como pessoas que receberam o melhor presente do universo, o tempo para nos aprimorarmos, para sermos melhores, cada vez mais completos dentro de nossa existência.

Faça com que o trabalho diário seja uma oportunidade de aprimorar suas habilidades em alguma área de ação. Encontrar com pessoas e fazer reuniões são oportunidades de aprender com os outros e suas experiências. Tarefas de casa são ações de gratidão para com aqueles com quem compartilhamos nossas vidas, mesmo que se more sozinho, o cuidado com é para consigo! As mais maçantes tarefas podem mostrar-se as melhores oportunidades para aprendermos a ter foco e determinação. Essas qualidade serão impreteríveis em tempos de maiores provações, e a vida sempre nos trará maiores provações conforme evoluirmos em nós mesmos.

Podemos tirar bons resultados de tudo o que fizermos, e isso não é assumir um espírito de Poliana, mas sim entender que tudo é uma oportunidade de crescimento. Somente a experiência poderá nos tirar de onde estamos, mas somente nossas escolhas podem fazer com que essa movimentação seja em uma direção que nos agrade. A evolução individual está nas mãos de cada e cabe somente a nós agir para nos tornarmos melhores.

Acordar e dar graças. Fechar os olhos no final do dia e saber que se fez tudo que estava ao próprio alcance para ser alguém melhor do que se era algumas horas antes.

Resultado

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Quanto mais ricos não seríamos se contentássemos-nos com o que já temos. O constante desejo por mais nos corrói e nos move a fazer muito do que nos arrependemos durante a vida. Passamos mais tempo fora de casa para ter mais tempo dentro de casa. Dedicamos atenção, nosso bem mais valioso, àquilo que nada nos acrescenta. Fazemos o que os outros esperam que façamos esperando seus favores que poderão um dia serem utilizados para vivermos melhor. Quando em verdade, se reorganizarmos nossos dias poderíamos preenche-los com muito mais prazer e deleite pelas coisas às quais nos trazem verdadeiro prazer e deleite.

O trabalho deve nos possibilitar cada vez mais sermos nós mesmos, e não menos. As atividades com que preenchemos nossos dias devem engrandecer nosso ser e serem dedicadas a isso acima de qualquer outro objetivo. Seja através do bem que trás para nós como através do bem que fará àqueles que estão à nossa volta. Deverá invariavelmente ter como resultado o bem. E tudo o que fazemos em nossos dias pode ser considerado trabalho.

Muito mais fácil falar/escrever do que fazer. Demanda dedicação e entrega, muitas vezes abnegação daquilo que é aparentemente mais fácil. Mas sempre trará a maior recompensa. Um professor uma vez disse que existe a forma errada e a forma fácil de se fazer algo. Por mais difícil que algo pareça, se estiver alinhado com nossos princípios, sempre resultará em prazer e abundância. A forma errada invariavelmente levará à necessidade de refazer ou ao pesar por ter alguma vez iniciado algo.

Ação

Ir e vir. Expansão e contração. Evolução e involução. Valorizamos somente os primeiros, quando em verdade estes não existem sem os outros. Em verdade, qualquer um destes é um caminho, basta que olhemos de ponto de vista diferentes. Para quem está indo o sentido contrário é a volta, mas para quem volta (ou vai) está tudo ao contrário. Ponto de vista. Mas o que é realmente relevante nisso tudo é o movimento. Indo ou vindo, a estagnação é a verdadeira antagônica de todos, pois em verdade todos são ação, com julgamento a partir do observador.

Recordação

“- Sócrates, reputo inegável tudo o que acabas de dizer.

– Eu também, Cebes, reputo que nada pode se opor a estas palavras de outro princípio que te ouvi expor: que o nosso conhecimento é somente recordação. Se este princípio é exato, temos de ter aprendido em outro tempo as coisas de que nos recordamos. E isso não é possível se nossa alma não existir antes de receber esta forma humana. Esta é mais uma prova de que nossa alma é imortal.

– No entanto, Cebes – interveio Símias -, que demonstração foi dada desse princípio? Diz-me, já que não me recordo dela.

– Há uma demonstração muito bela – respondeu Cebes -, que todos os homens, se são inquiridos, descobrem tudo por si mesmos, e isto não seria possível se não possuíssem em si mesmos as luzes da razão correta. Pensa também nas figuras geométricas e outros procedimentos e te persuadirás de que é assim.”


Platão. Dialogos : Eutifron ou da religiosidade ; Apologia de Socrates ; Criton ou do dever ; Fedon ou da alma. São Paulo SP: Nova Cultural, 1999. Página 135 e 136.

Algo para pensar, para questionar. Conhecer é recordar, recordar é conhecer.

Vale?

Escrever por escrever. Sem ter um objetivo específico. Vale também? Por que não valeria? Se vem de dentro, se tem algum significado individual ou coletivo, ou somente é um questionamento a qualquer coisa, seja ela real ou hipotética, ou ainda utópica, por que não valeria? Instigar o pensamento, a reavaliação de todas as condições, de todas as estruturas de sustentação ou auxiliares. Vale se nos levar a um ponto diferente de onde estamos hoje, motivados pela vontade de ser melhor, de viver melhor, de tornar o mundo um lugar melhor.

Nemo vir est qui mundum non reddat meliorem.

Entrada

Gostaria que o primeiro post a ser colocado aqui tivesse algo de profundo e especial, como uma abertura grandiosa de um teatro ou filme. Mas já não é sem tempo que este site comece a funcionar e seja colocado no ar, e como o texto grandioso nunca veio, e pode ser até mesmo que nunca chegue, estas serão minhas primeiras palavras públicas.

Usarei este site como uma forma de colocar publicamente tudo aquilo que acredito ser importante compartilhar, sejam estes meus pensamentos ou pensamentos de outros, devidamente mencionados e referenciados. Pode ser que demore até que algo original apareça, mas esta não é a minha proposta padrão, mas sim trazer à luz assuntos que possam ser discutidos e que possam contribuir sempre para que cada um de nós torne-se cada vez mais uma versão melhorada do que éramos antes. Tenho como propósito trazer sempre que possível assuntos e temas que possam fazer com que cada um questione a si mesmo, faça sua própria auto análise, busque sua própria verdade, encare de frente seus medos e dificuldades. Acredito que só assim é possível estarmos em constante crescimento e desenvolvimento em um mundo que não aceita mais estagnação, somente evolução.

Assim, tento iniciar este trabalho não com uma entrada triunfal, mas como uma orquestra, que começa devagar, afina todos os instrumentos com cautela, reconhece uns aos outros para que possam tocar a peça juntos como um só corpo.

Espero poder trazer algo de bom para alguém. Não quero mudar o mundo, mas contribuir para que ele seja melhor.