Escrevo sem ter o que escrever. De novo. Parece uma pequena praga. Como se os dias estivessem muito embaralhados, bagunçados, desordenados. E com isso a cabeça fica embaralhada, bagunçada e desordenada. Um verdadeiro caos, de dentro para fora e de fora para dentro. Você pode imaginar. Ou não, se a sua vida for muito certinha. E chata. Aquela vida chata em que se sabe tudo o que vai acontecer o tempo todo. Eca! Mas ao mesmo tempo, socorro! A imprevisibilidade não me deixa descansar a mente de noite. Sou controlador. Gosto de saber o que vai acontecer. Como e quando também. E quem estará envolvido. Não sou controlador. Mas os outros acham que sim. Considero-me organizado. Por vezes tão organizado que o espaço que deixo para outros participarem é pequeno e desconfortável. É o caixote no canto do armazém, que tem pontas de prego saindo pelas laterais, é mais alto ou mais baixo do que a altura ideal para sentar-se e é meio bambo. Sabe? Não? Qualquer dia posso te convidar para sentar-se nele. Não é confortável e, a não ser que você seja sádico, não vai querer voltar.
Me incomoda que não consigo fazer o texto ficar distribuído por igual nas linhas, daquele jeito que fica alinhado dos dois lados da página. Só vejo a opção de alinhar de um lado ou do outro, ou ainda aquele formato grotesco de alinhar tudo pelo meio, e então cada linha começa e termina onde quer. Céus, é como se fosse o caos instaurado em cada parágrafo. Não tem como saber onde uma linha irá terminar e onde a outra irá começar. Peço desculpas a você que chega aqui esperando algo um tanto mais previsível ou coerente. Aqui não há previsibilidade nem coerência. Se houvesse eu dormiria e descansaria de noite. Mas não há, então nem durmo nem descanso. E caso continue aqui pode ser que isso afete você também. Assuma por sua conta e risco, não responsabilizo-me pelas consequências das falhas as quais não consigo corrigir. Eu tentei, juro que tentei. Mas o editor é intratável e não quis conversa. As opções são as três supracitadas. Assim como você, tenho que contentar-me com aquela que me parece menos sofrível.
Voltando ao tema de não ter tema, existem várias questões para serem discutidas. Posso escrever sobre a beleza, a pureza, a natureza ou qualquer outra eza, mas não são os temas que eu gostaria de colocar em texto agora. Parece que não vou conseguir produzir algo bom ao tentar explorar esses assuntos. Existe a possibilidade também de escrever alguma história, relatar algum acontecimento, inventar um conto com um pouco de realidade e muita ficção. Ou o contrário, que também é válido. Parece que fiz isso já, mas não sei o quão bom ficou. E como estou sem assunto, fico também inseguro de escrever uma historinha sem saber se ela ficará boa de verdade ou não. Minha esposa lê e diz que gosta, mas pode ser aquela coisa igual de mãe que sempre diz que o filho é bonito, mesmo ao nascer, com aquela carinha de joelho, a testa franzida, os berros banguelas. Pai também acha os filhos lindos, mesmo quando ainda não estão tão lindos assim. Os meus são lindos, desde que nasceram. Talvez ela só não queira me magoar, afinal moramos juntos. Quem vai tropeçar no meu bico e resvalar no meu mau humor é ela. Então não sei se conta muito. Um outro dia escrevo uma outra história e coloco aqui e abro uma caixinha de avaliação para quem quiser avaliar. Não tem isso? Está vendo, o editor é intratável. Sinto muito. Mas de qualquer forma, teria que ser um outro dia, pois hoje estou sem assunto.
Temos aqui em casa um folheto que vira um cartaz que tem os nomes junto com as fotos de uma boa quantidade de passarinhos que vivem na mata atlântica. Como estamos em uma cidade que fica onde antes era mata atlântica parece que alguns deles teimam o suficiente em ficar voando pela cidade, aparecendo perto de casa e nas praças. Em geral são pássaros pequenos, coloridos, de canto bonito. E quando aparecem não conseguimos ver no nosso folheto/cartaz/guia qual é o passarinho, pois meu filho gostou tanto do folheto/cartaz/guia que ele guardou em uma pasta, dentro de uma bolsinha que está dentro de uma bolsa maior que por sua vez fica no armário dele, por trás de uma caixa de tesouros. É para a irmã não mexer. Mas daí ninguém mais mexe também, nem ele. E quando conseguimos convencê-lo a pegar o tal guia de passarinhos e depois de ele vencer todas as barreiras que criou para proteger seu tesouro, já esquecemos qual era o passarinho e não conseguimos identificá-lo. Vale a tentativa, no entanto. Sempre nos rende alguns minutos vendo as imagens de todos os passarinhos e lendo seus nomes e meus filhos escolhem quais gostam mais (de todos) e depois ele guarda na pasta, que vai dentro da bolsinha que é colocada dentro da bolsa maior que fica no armário dele, atrás de uma caixa de tesouros. Muitas vezes ele esquece o que tem nessa bolsa e, quando arruma o quarto e tira tudo e espalha pela cama e pelo chão encontra algum tesouro fantástico que nem lembrava da existência. E assim arrumar o quarto, para ele, é algo que leva um dia inteiro. O que o faz ficar muito intrigado de como eu levo menos de uma hora para arrumar todo o meu armário. “Por que você não guarda tanta coisa papai?”. Algumas perguntas devem ficar sem respostas, para que cada um perceba por si o resultado.
Bem, vim até aqui, e espero que você também tenha vindo até aqui, sabendo que não havia assunto algum para ser escrito. Sempre há algum devaneio ou ideia, mas assunto mesmo não tem. Final de ano, sabe como é (com um sorriso sem graça e uma levantada de ombros, tombando um pouco a cabeça para um dos lados). Espero que, se você tinha esperança de que os textos que haveria de ler aqui fossem bons ou teriam um tema de interesse conforme prometido anteriormente, não perca a dita esperança. Dizem que ela é a última que morre. Não vamos matá-la! Prometo escrever de novo, quem sabe da próxima vez com algum tema.