Temos um galo, que cuida das galinhas. A ideia era ter galinhas, mas como tudo sempre precisa de um acompanhamento, temos um galo. Foi como tentar comer hambúrguer sem batata frita. Se alguém já tentou sabe do que estou falando. Pode até ser que tenha passado pela experiência e achou no final que deu tudo certo, pois quando terminou de comer não estava tão cheio quanto estaria se tivesse também comido batata frita, mas exceto se a pessoa tiver alguma restrição alimentar que envolva a impossibilidade de comer batatas fritas, vai sentir falta e na próxima vez que comer hambúrguer vai comer também batatas fritas. E assim, temos um galo.
Vou começar do começo. Eram três pintinhos, que eram para ser três galinhas. Mas como não sabíamos, e ainda não sabemos, como ver se o pintinho vai ser galo ou galinha, ficamos com os três juntos. Eles cresceram e em poucas semanas já dava para ver que dois deles seriam galos. Poxa, uma galinha significa um ovo só por dia. Queríamos três. E três galinhas, para que elas fossem amigas das crianças e tudo o mais. Mas dois eram galos e um era galinha.
Deixamos eles crescerem para ver no que ia dar. Pouco tempo depois, a galinha nem estava botando ainda, o jardineiro nos ofereceu duas galinhas e três galos. Havia toda uma história por trás dessa disparidade, mas o motivo de estar oferecendo todas essas aves para nós é que os galos estavam cantando na janela da sogra e ela não estava feliz com isso. Aceitamos, pois estávamos muito empolgados com a ideia de agora termos, finalmente, três galinhas. Então uma noite, depois que as crianças já estavam dormindo, ele chegou com um saco contendo três galos. E as galinhas? Essas são mais difíceis de pegar, então só pegamos os galos por enquanto.
Deixei os galos na gaiola que tínhamos aqui e cobrimos para que eles dormissem no escuro. Antes das quatro horas da manhã eles já estava cantando. Ri muito e acordei para fazer meu café enquanto ainda estava escuro e muito tempo antes do despertador tocar, pois a gaiola estava no meio do pátio, embaixo da janela do meu quarto. Falha minha. Durante o dia minha esposa os levou até o local onde ela trabalha, que tem uma infinidade de galos e galinhas. Poderia até mesmo dizer que tem uma horda de animais. É um sítio e já estava combinado que eles iriam para lá, os galos, e nós ficaríamos com as galinhas.
O tempo passou e as galinhas não vieram. Minha esposa ficou brava. Fala com ele, ela me disse. Cobre eles! E eu cobrei. Vem aqui que nós pegamos elas juntos, é difícil de pegar sozinho. Então um dia de final de semana, voltando de um almoço fora, passamos na casa do jardineiro e ajudei a pegar as galinhas. Nos ralamos de monte, eu e o jardineiro, pois as galinhas são pequenas e correm como nunca vi uma galinha correr antes. É como se injetassem nitroglicerina nas pequenas perninhas quando vão correr e saem em disparada. Se não for encurralada, não pega de jeito algum. Minha esposa desfilou com as galinhas no colo até em casa, com as crianças andando do lado dela. Todos muito felizes, exceto as galinhas, que reclamaram o caminho inteiro.
Colocamos elas junto com a outra galinha e os dois galos. E foi a partir desse dia que percebemos que dois galos para três galinhas era meio que muito. Eles bateram nas galinhas e entre eles até decidirmos que somente um poderia ficar. Observado o comportamento, escolhemos aquele que parecia ser mais protetor das galinhas, que avançava nos gatos quando passava por perto e que era um pouco menor, para não machucar as galinhas, que eram tão pequenas. Ficou um e foi embora o outro. Levei ele em um saco para o sítio onde minha esposa trabalha e ainda vemos ele toda semana. É um galo muito bonito. Os dois são, mas um é branco, o que foi embora, e o que ficou é marrom. Segundo minha sogra, é índio. Mas não é. Só é marrom mesmo.
Pouquíssimo tempo depois, estávamos comendo em um restaurante rural e meu filho ganhou um pintinho que estava quase morto. Ele tinha uma doença que dá verrugas no corpo e estava bastante debilitado. Demos o remédio para ele e viajamos no dia seguinte, torcendo para ele sobreviver. Minha sogra iria cuidar dele e dos outros. Ele ficou separado. Ela o levou para o seu apartamento, junto com a gatinha filhote que também estava em casa fazia pouco tempo. Passamos uma semana fora aproveitando as férias escolares enquanto ela passou uma semana pagando todos os pecados cuidando de bichos na nossa casa e na casa dela.
Por incrível que pareça, o pintinho sobreviveu. É feio que só vendo. Já virou uma galinha, então agora o rebanho é de quatro galinhas. Já até bota ovo. Mas é feia e coxa. Não sofre do mau de ser coxa mas bela, bela mas coxa. É feia mesmo. E coxa. Mas bota ovo!
Hoje, ainda a pouco, pegamos quatro ovos. Cada um tem um tamanho e uma cor. Todos aqui de casa sabem identificar qual é de qual galinha. Meus filhos pedem o ovo da galinha que querem comer. Claro que eles não fiscalizam o que fazemos, porque nem sempre tem o ovo da galinha que eles querem, mas é gostoso quando um deles pede que quer um ovo de Capuchinha mexido. Capuchinha é uma das galinhas. A feia e coxa é a Camomila. E as outras duas, que são garnisé e tem turbo no pé são as Vanessas. Não sei o motivo de chamarem-se Vanessas. Deve ter alguma relação com algo que passa na televisão ou artistas famosos, mas não temos essa cultura aqui em casa, então só chamamos de Vanessa preta e Vanessa branca, pois uma é preta e a outra é branca. E o galo é o chefe do rebanho. O grande índio (só que não), Hortelã. Para colocar todos no galinheiro é só levar ele que as galinhas vão atrás.
Então temos uma família de galináceos. Um macho e quatro fêmeas. E tem ovo todos os dias. E agora somos aquela família que de vez em quando dá ovos de presente para os outros e diz “são das galinhas lá de casa!”.