Fazem já alguns anos que mantenho cadernos de anotações. Escrevo ideias, sentimentos, o que está acontecendo, o que gostaria que acontecesse, o que não aconteceu. É quase um diário, e serviu com esse propósito em alguns momentos, mas não o considero como tal, pois tenho com esses cadernos um outro objetivo.
Ele funciona como a manivela de partida para a escrita. O atrito é o menor possível, ficando o caderno e o lápis à mão, prontos para escrever. Não há distração alguma, nem tem como haver. É pegar e trabalhar. Isso muitas vezes facilita escrever algum post ou alguma história, pois ali começo a movimentar o cérebro para gerar ideias, como se fosse o aquecimento para o trabalho de verdade. Não há notificações, navegadores de internet, sites de compras, sons, nada. É a página em branco e o lápis na mão. O que vem na cabeça vai parar ali. Pode ser uma indignação, uma vontade, um medo, uma experiência, qualquer coisa que me dê vontade de escrever, desde que me faça começar a escrever. E a maioria das vezes, depois de exaurir o que quer que tenha vindo para começar a movimentar, venho para o computador e consigo colocar algum outro texto na página, algo que se torne um post ou uma história. Ou pode ser quase uma continuação do que escrevi antes. Muitos textos nunca verão a luz do dia, mas nem por isso deixam de ser escritos.
Depois que preencho o caderno inteiro, deixo ele guardado por algumas semanas enquanto começo um novo. Só quando chego pela metade do caderno novo é que pego novamente aquele que já está cheio e começo a digitá-lo, transformar todos aqueles escritos em arquivo digital. E daí acontece de saírem novas ideias. É um reservatório, que quando menos espero acaba me devolvendo algo de maneira inusitada. E depois de transformados em arquivos digitais os cadernos físicos vão para uma gaveta, numerados e identificados. Ainda não sei o que fazer com eles, mas estão ali guardados. De tempos em tempos tiro todos e verifico se não estão sendo comidos por insetos vorazes.
Essa é uma forma que encontrei de evitar a tentação da distração. Quando venho para o computador já estou em um estado em que a mente está pronta para trabalhar, então não tenho a possibilidade de fugir disso, preciso escrever, preciso colocar as ideias na página. E quando fico sem ideias, volto para o caderno e escrevo o que vem à mente. Acontece de a falta de ideias às vezes ser na verdade uma ideia que ficou entalada e o caderno me ajuda a colocá-la para fora.
De tudo, o mais importante aqui é entender que cada um tem a sua maneira de chegar ao processo criativo. Eu fiz assim. Sei de pessoas que gostam de caminhar para ter ideias, inclusive esse era um hábito de muitos escritores. Outros gostam de contemplar a natureza. Cada um estimula o seu processo criativo de uma forma.