Erros

Temos a impressão de que sempre haverá a possibilidade de tentar de novo, de aproveitar algo em algum outro momento, de fazer o que não fizemos. Dizemos isso a nós mesmos e aos outros. “Fim de semana que vem eu saio com meus filhos”, “na próxima ocasião eu elogio minha esposa”, “quando der eu digo ao meu amigo o quanto ele é importante”. Mas algumas vezes acontece de não dar mais tempo. No outro final de semana chove. A esposa se cansa de esperar. O amigo vai embora para outro país. E a oportunidade passou sem que fosse aproveitada. Fica só a vontade de ter feito algo diferente e ter gerado boas memórias para todos. E o arrependimento do que não foi feito.

Mas trago boas novas! Muito do que deixamos passar pode ser reparado. Sim, pode ser que o momento ideal tenha passado, mas pode ser que não seja tarde demais se agirmos assim que nos dermos conta do erro. Uma mensagem ou ligação pode dar conta do recado em muitos casos. É usar a tecnologia a nosso favor, como uma ferramenta, e não somente como uma distração. Nos esquecemos de que ela é uma ferramenta e focamos só na capacidade de distração. Perdi a conta de quantas vezes liguei para minha esposa depois que já havia saído de casa para dizer que lhe amava. Não que tivesse esquecido, isso tenho orgulho de dizer que nunca fiz (esquecer), mas confesso que às vezes não falei com a vontade que queria falar, ou que ela merecia ouvir. E então liguei logo que houvesse percebido meu erro para repará-lo. Porque o ruim não é errar, mas é perceber o erro e não corrigir. Depois de algumas vezes tendo que reparar o erro (cheguei a descer do carro e ir de volta para dentro de casa, antes de ter saído do portão) comecei a não errar mais. Pelo menos não com isso! Erro com outras coisas, mas sempre que me lembro faço a reparação imediata. Da mesma forma que não deixo passar a vontade de dizer que amo meu filho, não deixo passar a vontade de voltar do portão e abraçá-lo de novo por ter achado que não foi forte o suficiente o abraço que dei antes. Ou abrir novamente a porta do quarto logo que fechei para dizer com mais ênfase: “te amo carinha”. Ele merece ouvir isso vindo do fundo do meu ser, e não só mecanicamente como um verso de boa noite. Recuso-me a dizer o que não é verdade assim como não dizer o que é verdade, e com a intensidade dessa.

Mas esse não é um ode ao erro ou uma solução mágica para todas as vezes que se erra. Algumas vezes é tarde demais. Quando descobri que meu pai estava atendendo ligações no hospital enquanto estava internado e eu não estava sequer enviando mensagens para ele, já era tarde demais. Quis poupá-lo para que se recuperasse, acabei não tendo o contato que hoje tanto desejava ter tido. Quando fiz o que deveria ter feito desde o princípio ele já não estava mais consciente. Ouviu minhas mensagens, mas nunca pôde respondê-las. Veja que algumas vezes pode sim ser tarde demais.

Então qual o propósito de escrever sobre isso? Qual o motivo de propor uma solução que não funciona o tempo todo e que algumas vezes pode nos fazer passar por tolos? A prática, caro leitor, não leva a perfeição, mas leva a quem queremos ser de verdade. Se negligenciar aqueles que ama é o que se pratica, é assim que serás. Não espere fazer diferente em algum momento no futuro se não tentar começar a fazer diferente desde o presente. Quando chegar o futuro pode ser que não tenha mais tempo de fazer diferente, e o segredo do erro é tentar não repetí-lo tantas vezes quanto a situação se apresentar, mas sim somente da primeira, ou das primeiras vezes. Quando as segundas vezes chegarem, já não erraras mais. 

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