A expressão “poeta do caralho” tem me perseguido a alguns dias já. A primeira vez que a ouvi eu tinha pouco mais de quinze anos, quando um tio meu usou ela para descrever um sobrinho da parte portuguesa de sua família. Desde então ela nunca mais saiu da minha cabeça. O que é um “poeta do caralho”?
Durante a vida tive muitas experiências que me ajudaram a entender um pouco melhor o que são os poetas. Mas não os poetas que escrevem poesia, estes são escritores. Os poetas de verdade levam um estilo de vida de poesia, mas nem sempre escrevem. Eles vivem a poesia, eles são a poesia! Os poetas são os bon-vivant, aqueles que estão sempre prontos para aproveitar o momento presente, que quando não estão vivendo esse momento presente é por estarem aproveitando alguma outra situação em algum outro lugar em algum recôndito da própria mente, mas estão aproveitando. Nunca vi um poeta que sofresse de ansiedade, pois ansiedade é a angústia pelo que vai acontecer, e eles não querem saber o que vai acontecer. E também nunca vi um poeta verdadeiro, aquele que vive como poeta, sofrer de depressão pelo que já aconteceu e não pode ser mais alterado. O que passou, passou. Se lhe incomoda é por que ele não está vivendo no presente, e isso é simplesmente impossível para os poetas. Eles não sabem viver em mais lugar algum que não seja o presente. Eles ignoram que exista algo diferente do presente. E pode ser que estejam completamente certos.
Agora, e os “poetas do caralho”? Depois de tantos anos tentando entender quem são os poetas e até mesmo trazer um pouco dessa forma de vida para a minha própria vida, tornar-me eu mesmo um poeta, não consegui apreender a essência daqueles que evoluem para chegar à ter o sufixo “do caralho” em sua designação. Até esta última semana. Pensei muito sobre isso e acho que consegui finalmente entender.
Diferentemente dos poetas, aqueles que chegam a ganhar o segundo nome não vivem só no presente, não são os eternos bon-vivant que se vê por aí, não são os poetas óbvios. São os poetas do caralho. Se você não os conhecer, não conviver minimamente com eles em algum momento da sua vida, eles nunca vão ser poetas aos seus olhos. Eles sentem o passado, não sabem o que o futuro guarda e ficam curiosos com isso. Podem ficar lúgubres e ao mesmo tempo se manterem poetas. Podem derramar lágrimas e ao mesmo tempo usar toda sua capacidade para estar presente. Entendem que a vida por vezes pode parecer uma bosta, mas é a vida, e ela continua sendo linda. Eles são um passo diferente dos poetas, pois não precisaram chegar a ser poetas, eles já nasceram “poetas do caralho”. É um salto evolutivo, não só um estilo de vida.
Mesmo achando que entendi, talvez não tenha entendido de verdade. Esse meu tio que me apresentou a expressão, ele é um Poeta do Caralho (e de agora para a frente vale escrever com letrar capitais, pois isso é um título, não uma mera designação). Pode ser que ele não enxergue, mas com essa nova ideia que aprendi assim o considero. Meu pai foi um também. Conheço um tio da minha mãe que também o é. Diferentemente dos poetas, que requerem condições muito específicas para existirem, como alguns peixes de aquário, os Poetas do Caralho existem por que a vida é linda, e estão aqui para mostrar isso para quem quiser ver. Eles estão prontos para que alguém sente-se ao seu lado e olhe para tudo o que está na frente deles e sinta tudo que tem para ser sentido. Não importa o que seja, é o que está ali. E foda-se o resto, pois o resto não existe. O que importa é aquilo que está ali, pois é só o que existe.