Aniversários

No último final de semana meu pai teria completado sessenta e dois anos. Nos próximos dias farão dois anos que ele faleceu. Quando de seu aniversário ele já estava doente, mas ainda não estava internado. Seria uma questão de dias.

Penso que consegui superar o inevitável fato de que ele já não está mais presente em corpo físico conosco, mas que está sempre em nossos corações, em nossas ações e nossa postura perante o mundo. Mas existem dias em que isso é muito difícil. Os abraços fazem falta.

A princípio tentei manter sua memória viva com o exercício “o que meu pai faria se estivesse aqui?”. Mas cheguei a conclusão de que isso só estava prolongando a minha dor. E afinal, ele me criou para ser como sou, não como ele é. Assim, agindo com minhas próprias vontades verdadeiras sempre vou realizar o que ele gostaria que eu fizesse.

Depois tentei manter um diálogo. Contar como foi o dia, a semana, como meus filhos estavam crescendo e desenvolvendo-se. Funcionou, das primeiras vezes, mas novamente cheguei a conclusão de que só estava estendendo meu período de luto desnecessariamente. Ele não ia querer que eu ficasse remoendo algo que não posso mudar. Sempre que me deparava com algo assim ele me confrontava com o questionamento “e o que é que você pode fazer com relação à isso?”. Se a resposta era nada, não se preocupe, pois não depende de você. Preocupe-se somente com aquilo que irá reagir com as suas ações.

Então fiquei sem ter uma forma de constantemente reavivar a memória dele em minha vida. E me senti culpado por isso. Como eu poderia deixar de honrar sua memória desse jeito? Eu tinha que fazer algo que pudesse evocá-lo o tempo todo para mantê-lo vivo em mim. Mas o que? E a resposta veio do meu filho. Ele me disse 

  • Papai, o vovô está o tempo todo junto com a gente, não é?
  • Sim meu filho, está sim.
  • Mesmo quando estamos bravos?
  • Sim meu filho.
  • E quando estamos tristes?
  • Também.
  • E se fizermos coisas erradas?
  • Ele vai estar conosco também, as vezes até pronto para chamar a nossa atenção!
  • Então nós nunca mais vamos estar sem ele, igual quando ele morreu.

Nunca mais vamos estar sem ele, igual quando ele morreu. Não importa o que eu faça, não preciso chamá-lo de volta para ter uma ligação constante com ele. Meu filho sente a conexão com ele. Eu sinto a conexão com ele. A maior diferença é que quando eu sentia essa conexão muito forte muitas vezes meu telefone tocava, enquanto que agora o que preciso fazer é parar, respirar fundo e sentir.

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