A vista começa a ficar rápida e lenta. Não é mais possível focar. O que as pessoas falam entra pelos ouvidos, mas o cérebro não processa a informação. O poder de decisão foi embora, a compreensão é bastante limitada do que está acontecendo ao redor. Então começa a ficar difícil de respirar. O ar entra e sai pela boca, pois o nariz parece não ser mais do que um adorno à esta altura, mas não enche o peito. É como se ele deixasse de existir e o movimento da respiração passa a ser uma mera resposta muscular inútil.
Neste ponto a ansiedade já está bem instalada, e o desespero começa a tomar conta. A ideia de que isso seja temporário não passa pela cabeça. Somente as sensações ruins preenchem a mente e perpetuam o sentimento. É impossível dizer quanto tempo passa, mas segundos podem parecer horas. A impotência toma conta. Algumas vezes um tema específico vem, outras vezes nenhum, somente a inquietação e a inconsolável vontade de não sentir mais nada. O coração está batendo mais rápido, a respiração está curta, os músculos do corpo inteiro parecem ter contraído-se. E a mente está em uma espiral para baixo que parece não ter fim.
Até que o corpo parece começar a relaxar. A musculatura é a primeira a dar os sinais de que este momento acabou. Depois o coração começa a voltar ao ritmo normal. E a respiração finalmente volta a ter um propósito, pois o ar volta a ser sentido preenchendo o peito, e só então a mente começa a entender que aquele momento que parecia não ter fim acabou.
Algumas vezes a reação posterior é um frenesi, em outros uma exaustão total, e em outros qualquer coisa entre os anteriores. Mas aquele momento excruciante acabou.
Já passei por crises de ansiedade em diversas situações da vida, não diferente de muitos outros. Dirigindo, durante uma reunião de trabalho, no meio da noite, no final do dia, no começo do dia. Inicialmente parece que elas vêm do nada e vão para o nada. E assim continuam parecendo, se não for feita a opção de olhar para o que são. Olhar de frente para o abismo poderia ser uma forma de expressar.
Uma vez, durante uma crise, me disseram para respirar e me acalmar. Depois de tudo passado eu ri da situação. Respirar era justamente o que eu não conseguia fazer! Alguns anos convivendo com isso me trouxeram um certo humor ao recordar as situações nas quais tive crises. E também esses mesmos anos me trouxeram o conhecimento de que toda crise possui um gatilho. Não quer dizer que eliminando todos os gatilhos da vida alguém vá deixar de ter crises. Nossa cérebro é mais esperto do que isso, ele acha as brechas e se embrenha nelas novamente, quando menos se espera. Significa somente que conhecendo seus gatilhos é possível antecipar a chegada da crise, como as sirenes que antecipam a chegada de um míssel. E preparação para enfrentar uma situação é uma grande vantagem para atravessá-la.
Cada um encontra os caminhos que melhor acolhem a si, e depois de um tempo também aprendem quais os caminhos para cada gatilho diferente (sim, os gatilhos podem ser vários, para desespero geral). Mas esses são paliativos. A verdadeira solução só é encontrada quando se vai até o fundo e se entende o problema. Algum ponto da vida está criando gatilhos e disparando os sinais de alerta que exaurem o corpo. A crise de ansiedade é um chamado para resolver um problema, e não um problema. Ela é um sintoma de algo mais profundo para o qual não se quer olhar. E um alerta para o ser de que ele precisa olhar.
Não é fácil nem simples, mas é possível. Os caminhos são os mais diversos possíveis, e dependendo da profundidade e disposição de cada um podem levar anos para se chegar à raiz do que está disparando todas aquelas sirenes na própria cabeça. Mas é possível. E quando se encara de frente a situação e as crises começam a diminuir ou até a desaparecerem é extremamente satisfatório.
Para mim foram alguns anos, e elas nunca deixaram de verdade de aparecer. Somente tornaram-se menos frequentes e mais administráveis. Afinal, as questões vão mudando conforme vivemos e novas situações que não existiam antes emergem e passam a permear nosso ser, e se deixarmos de olhar para elas por tempo suficiente a mente vai encontrar uma forma de chamar a atenção. No meu caso, com crises de ansiedade.
Tento seguir minha própria teoria: olhe para o problema e encare-o de frente. Quando a crise vier, atravesse ela e olhe novamente para o problema. Cada um tem a solução para as suas situações, então cabe a cada um decidir superar.