Confrontar

Quando sentimos incômodos em nossas vidas a resposta automática é a de responder à eles. Lutamos contra o que está nos incomodando e, quando damos a batalha por vencida, paramos de olhá-los. Até mesmo esquecemos que esteve ali alguma vez, o que o torna somente mais forte para voltar a nos morder algum dia. Como qualquer mal que nos aflige, olhar para o sintoma e atacar somente o sintoma, e parar por aí, nos faz esquecer que tudo possui uma causa, um ponto de origem, uma necessidade primordial, que caso não seja sanada, voltará a nos perturbar, seja com o mesmo sintoma, seja com algum novo incômodo, mas é certo que voltará.

Deixar um relacionamento que não nos agrada somente para encontrar outro que nos causa as mesmas aflições. Trocar de empresa quando é a nossa carreira que nos consome. Mudar de casa e levar tudo o que estava dentro dela consigo quando as roupas já não nos servem mais e os demais bens não nos agradam. Tudo isso é tratar o sintoma e esquecer-se da causa. O novo relacionamento irá empolgar, até percebermos que caímos na mesma solidão em que estávamos no antigo. O emprego novo trará muitas coisas novas, até termos que nos ajustar às mesmas atividades que realizamos no anterior. A casa voltará a nos trazer insatisfação quando percebemos que somente as paredes mudaram, mas carregamos a nossa vida antiga para dentro da casa nova. E tudo se repete, pois nossa memória é curta o suficiente para esquecer-se do movimento antes do último, e repetimos o mesmo padrão.

Depois de fazermos isso várias vezes corremos o risco de algo nos servir com um retórico ou literal tapa na cara. Um parceiro que percebeu o seu descontentamento idêntico ao relacionamento anterior após seus relatos de insatisfação dos relacionamentos passados, um chefe que começa a perceber seu desânimo e lhe avaliar mal ou pegar no seu pé para que tenha um desempenho melhor, a mesma desordem do dia a dia que você não quer arrumar na sua casa. Tudo isso aparece novamente para nos trazer de volta ao problema, e então agimos para novamente mudar os sintomas, sem olhar para o caminho que nos levou à eles. Um problema não pode ser resolvido no mesmo nível de consciência em que foi criado, é necessário crescer com o problema, para só então conseguir enxergar sua solução.

No entanto, por vezes, podemos nos deparar com algo novo, e que nos faz questionar um pouco além do nosso descontentamento aparente. É como se muitas possibilidades de repente se abrissem aos nossos olhos e que não enxergávamos antes pela nossa própria obtusidade. Crescemos, amadurecemos, evoluímos. Use o termo que for, mas o certo é que alteramos nosso nível de consciência para sair da situação em que nos encontrávamos. E isso não tem volta.

A cada passo que damos em direção à novos níveis evolutivos individuais não existe retorno. Uma vez alcançado um novo patamar não se desce mais ao anterior. No caminho do desenvolvimento individual não existe para trás, somente para frente. E cada passo nos levará a mais consciência, mais auto conhecimento, mais responsabilidade para com nós mesmos.

Dizem que a ignorância é uma dádiva. Quase isso. Crescer dói, mas é somente crescendo que chegamos a algum lugar. Crescer é movimento, e sem movimento é quase óbvio que não vamos a lugar algum.

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