Oceanos

Sentir a água lavando os pés em um movimento intenso de expansão e contração. Por vezes chegando a molhar as roupas com a força com que bate nas pernas, por vezes somente limpando o trecho de pele que está mergulhado. O sol bate direto ou através das nuvens, ou mesmo ainda descansa em seu repouso diário em outra parte do mundo, permitindo que a lua seja a grande luz que ilumina as espumas que o movimento cria ao acontecer.

Conheci alguns mares, o atlântico, aquele que está mais próximo de onde nasci. Mas também o visitei bastante longe de casa, à um hemisfério todo de distância. O pacífico, invariavelmente mais gelado, mas por vezes até mesmo menos irado do que seu grande irmão, também em partes opostas por hemisférios. O último, não em ordem mas somente em menção, o mar de Tasman, que por ser parte do pacífico conserva muitas de suas características visuais, mas tem uma força que é somente sua. Em todos eles lavei meus pés e, quando possível, o resto do corpo todo. E com isso banhei minha alma.

Quando mais novo tinha menos consciência desse ato, mas depois de conhecer-me um pouco mais comecei a entender o quanto era influenciado por esses corpos magnânimos e vivos que banham as costas de nossas terras. Muitas vezes sentei-me a admira-los sem ter vontade de molhar meu corpo por prazer, mas sempre molhei os pés como uma reverência, como se fosse eu quem estivesse lavando os pés do oceano, e não o contrário. O respeito e reverência por este elemento vivo que circunda todos os corpos terrestres e, de certo modo, transforma todos os terrenos em ilhas, trouxe-me clareza em muitos momentos diferentes da vida e respondeu-me diversas questões com o seu marulhar constante, que aos ouvidos de quem estiver atento possuem vozes muito profundas e cheias de conhecimento.

Com o mar curei dores e fechei ferimentos. Acalmei a mente em crises de ansiedade profunda meditando ao olhar suas ondas e ouvir seu rugido, sem nem mesmo saber ainda o que era meditar. Encontrei respostas para questões que me perturbaram durante muito tempo, somente com a sua presença. Essa é a força que essas águas tem em mim, e acredito que em qualquer outro que possa estar realmente presente quando próximo delas. Triste é pensar que muitos não tem a oportunidade ou o desejo de estar junto à essa imensidão.

Hoje tenho essa oportunidade com uma frequência praticamente infinita, e continuo aprendendo a cada novo encontro. A natureza de sua existência e amplitude me coloca de volta em meu lugar de pequenez frente à existência e me traz a consciência de minha fragilidade e efemeridade neste mundo. Esse é um dos motivos que me faz sempre retornar e me defrontar com o infinito que representa o oceano a cada novo questionamento que tortura minha mente, ou quando esta encontra-se muito quieta, para assim levar a novos questionamentos que irão manter-me em movimento.

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